19 de dezembro de 2014

Como se diz "carinho" em alemão?

Boa noite, Fábio! 

primeiramente gostaria de parabenizá-lo pelo excelente Blog. Descobri o seu blog por acaso logo no começo dos meus estudos e achei sensacional a sua didática. Desde então acompanho constantemente as suas atualizações.

Estou morando em Erlangen, no norte da Baviera, e dentro de alguns dias volto para o Brasil, porém uma dúvida me acompanha desde os primeiros dias de intercâmbio: qual seria a melhor palavra em alemão para o nosso tão conhecido termo "carinho" / "fazer carinho" ? Tentei tirar essa dúvida com alguns colegas alemães de diferentes regiões e todos eles citam no começo a palavra (die) Liebkosung , mas logo depois voltam atrás dizendo que talvez só a avó deles falaria isso. Por falta de um termo geral que envolva cafuné, massagem, afago, e qualquer outra ação que possa representar um gesto de carinho, meus colegas alemães passaram a usar a nossa palavra mesmo : " Carinho machen " . 

Mais uma vez, agradeço pelo excelente conteúdo disponibilizado e pelas fantásticas dicas dadas! 

Grande abraço! 
David Falcão Cavalcanti

Ótima pergunta, David. (Obrigado pelos elogios). Essa também foi uma dúvida minha por um tempo, mas acabei não indo mais atrás dessa resposta e aceitando que nem sempre os alemães se expressam da mesma forma. Naquela época cheguei à conclusão de que, mesmo que existisse uma palavra, essa palavra não era muito usada. 

Antes de qualquer coisa, eu geralmente não gosto quando as pessoas me pedem pra traduzir uma palavra assim fora de contexto, pois é um trabalho enorme de Lexicografia pesquisar todos os sentidos que a palavra pode ter. Mas vou fazer uma exceção, pois eu também acho a pergunta interessante.

Vamos aos dicionários: 
O Houaiss diz que "carinho" é "uma manifestação delicada, que pode ou não envolver contato físico, de apreço, amor ou meiguice". Essa definição pra mim é bastante importante, pois quando se diz "Tenho muito carinho por alguém" (não envolve contato físico) o sentido é um pouco diferente de "Fiz um carinho em alguém" (envolve contato físico). 

Significado 1: sentimento, sem envolver contato físico
O dicionário PONS traduz carinho, neste caso, por Zuneigung. Para se dizer então que se tem carinho por alguém: "zu jemandem Zuneigung haben/empfinden". 

Sie hat eine besondere Zuneigung zu Tieren. Ela tem um carinho especial por animais. (apesar de animais não serem pessoas, no caso, mas é só um exemplo)

Mas é claro que você pode dizer o mesmo usando verbos, sem necessariamente usar um substantivo. Por exemplo, jmdn. gern haben/mögen, no fundo transmite a mesma mensagem:

Sie hat/mag Tiere besonders gern.

Se por acaso você quiser dizer que tem "um carinho enorme" por alguém, eu sugiro usar verbos de "gostar" com advérbios de intensidade. Ich habe dich sehr gern

Ainda no mesmo sentido, eu também traduziria por Sympathie.

Prinz William genießt die Sympathie der Briten. O Príncipe William goza do carinho dos britânicos. (apesar de Sympathie também significar simpatia, essa simpatia é uma demonstração do sentimento  "carinho").

Significado 2: ato, envolvendo contato físico
Como seus amigos alemães disseram, não é muito comum ouvir a palavra Liebkosung em contextos informais, tal como nós usamos a palavra "carinho". É uma palavra de uso superformal e já está caindo em desuso (por isso, eles disseram que só as avós talvez falassem assim). 

Mais uma vez eu não tentaria recorrer a construções com um substantivo (tal como vocês dizem "carinho machen"), mas procuraria um verbo para dizer o tipo de carinho feito (já que alemão tem sempre verbos específicos para tudo). Pois bem, aqui vai uma pequena lista de verbos que, na minha opinião, são ações de quem "faz (um) carinho":

1) streicheln - quer dizer "acariciar". É o que você faz quando põe um gato no seu colo, você ficar deslizando a mão sobre os pêlos do gato, por exemplo. Isso é "streicheln". Se você fizer isso numa pessoa, é uma forma de fazer carinho, né? :-) Usa-se com complemento no acusativo.


2) schmusen - quer dizer "fazer carinho", trocar manifestações (com contato físico) de afeto e carinho (mas geralmente envolve beijos). Ou seja, quando duas pessoas estão ali abraçadinhas, dando beijinhos, se acariciando etc. Em outras palavras, para que aprender a palavra "carinho" se em alemão existe um verbo para isso? hahahaha (Também com acusativo: jmdn. schmusen ou miteinander schmusen)

kuscheln
3) knuddeln - Quando se refere a jovens e adultos quer dizer abraçar, ficar abraçadinho. O knuddelnschmusen podem ser sinônimos (com beijinhos e abraços). Mas o foco do knuddeln é o abraço. Knuddeln também se pode fazer com um bebê quando alguém o põe nos braços, o abraça, aperta e beija. 

É ou não é fazer carinhos? :-)

Também se usa com o acusativo:
Knuddel mich! - Abrace-me (carinhosamente)!

4) kuscheln - É o famoso verbo do inglês to cuddle. Pra quem não sabe é ficar agarradinho em busca de calor, carinho, aconchego, aconchegar-se a alguém. Diferente do schmusen, o kuscheln não dá a ideia de beijinhos, em geral, a pessoa está procurando um lugarzinho no colo, nos braços, junto ao corpo ou debaixo das cobertas onde esteja alguém. 

a) Usa-se o verbo de forma intransitiva (dá pra dizer com quem): 
Ich kuschle gerne. 
Ich kuschle gerne mit meiner Freundin. (Eu gosto de ficar abraçadinho com a minha namorada).

b) Ou usa-se de forma reflexiva sich an jmdn./etw. kuscheln
Ich kuschle mich an meine Freundin. (Eu me aconchego à minha namorada)

Esses quatro verbos da lista já dão uma ideia de que tipo de carinho se está fazendo. Nessas horas os alemães conseguem ser mais específicos.

Mas caso você não queira ser específico demais, dá pra usar o adjetivo zärtlich  + o verbo sein (ser carinhoso). 

Sie war sehr zärtlich zu mir. Ela foi muito carinhosa comigo. 
Caso não haja contato físico é mais comum dizer liebevoll em vez de zärtlich

De uma forma bem neutra, mas um pouco formal, dá pra dizer também Zärtlichkeiten austauschen (trocar carinhos, carícias), mas a forma zärtlich sein é mais usada. 

É isso! :-) Liebe Katharina, vielen Dank für die Tipps! 

16 de dezembro de 2014

Lichtgrenze é a palavra do ano 2014


Lichtgrenze
No dia 12 deste mês a Gesellschaft für deutsche Sprache (aprox. Sociedade para a língua alemã) publicou a lista de palavras do ano. Essa eleição já virou tradição e é bastante apreciada, pois a lista não é feita com as dez palavras mais recorrentes do ano e sim aquelas palavras que tiveram um significado mais importante naquele ano. Tem que ser palavras que tenham acompanhado o discurso político, econômico ou social do ano em questão. As palavras são escolhidas por um júri composto por membros da GfdS. Lembrando que o termo "palavra" pode também se referir a um termo composto por várias palavras, desde que este tenha sido usado representando um único conceito.

Vamos às dez palavras do ano:
1) Lichtgrenze: (fronteira de luz) - a palavra se refere às instalações comemorativas dos 25 anos da queda do Muro de Berlim. Foram instaladas por 15 quilômetros balões iluminados por onde passava o Muro de Berlim que separou a cidade por 28 anos. A palavra tem um sentido simbólico, pois a subida dos balões conseguiram representar bem a época de escuridão que foi viver numa cidade dividida. Ano que vem a Alemanha comemorará os 25 anos da reunificação.

2) schwarze Null: (zero preto) - a tradução literal fica estranha em português, pois em português usamos as cores azul e vermelha pra representar números positivos e negativos. A expressão schwarze Null foi usada durante o ano todo pelos partidos do governo federal indicando que a meta seria terminar o ano com as finanças no azul (não no vermelho). Ou seja, o zero preto representaria então um saldo que não é negativo.

3) Götzseidank: (graças a Götze) - é um jogo de palavras com a expressão Gott sei Dank (graças a Deus). Todo mundo deve se lembrar que na final entre a Alemanha e a Argentina na copa do Brasil de 2014, a Alemanha foi salva por um gol de Götze na prorrogação. Desde então, a expressão Götzseidank foi repetida várias vezes.

4) Russlandversteher: (entendedores da Rússia) - desde que a Rússia invadiu e anexou a Crimeia, houve muitos debates na Alemanha sobre o que anda acontecendo por lá. Como todo mundo conviveu (e ainda convive) com um medo de uma guerra acontecer tão perto da Alemanha, a mídia inteira (TV, jornais etc.) passou a convidar pessoas a analisar os acontecimentos. De um lado temos os "Russlandversteher", pessoas que tentam mostrar o lado da Rússia e defendem um diálogo com o país de Putin. E do outro lado, os que criticam a política neoimperalista russa.

5) bahnsinnig: (jogo de palavras entre Bahn [trem] e wahnsinnig [louco]). Este ano o sindicato de maquinistas da Alemanha promoveu duas grandes paralisações. O público, em geral, achou as paralisações exageradas, o que levou à criação da palavra. Eles estão loucos. Sie sind wahnsinnig, ou melhor, bahnsinnig.

P.S. Esse tipo de construção criativa é bastante comum também em português. Um exemplo é a palavra "petralha" (PT + metralha [que por sua vez vem dos Irmãos Metralha]). Se tivéssemos essas seleções no Brasil, palavras como "petralha" ou "mensalão" apareceriam com certeza na lista de palavras do ano. 

6) Willkommenskultur: (cultura de boas-vindas) - a palavra reacendeu o debate sobre a recepção de migrantes pedindo asilo político na Alemanha. Os debates ainda estão a todo vapor na mídia e agora nas ruas. Apesar disso muitas pessoas exigem uma Willkommenskultur dos alemães. É difícil definir exatamente o que é: solidariedade com os fugitivos de guerra que pedem asilo, recepção incondicional de todos os fugitivos, integração dos migrantes (?)...

7) Social Freezing: (congelamento social) - a palavra do inglês se refere ao congelamento de óvulos sem nenhum motivo medicinal. Depois que a Apple e o Facebook anunciaram suas intenções de oferecer essa possibilidade gratuitamente a seus funcionários que quiserem adiar a procriação para um período que não atrapalhe suas carreiras, o debate foi levado à mídia alemã.

8) Terror-Tourismus: (terror-turismo) - um jogo de palavras entre "terrorismo" e "turismo". A palavra trouxe à tona o debate sobre o alto número de jovens alemães que foram lutar na guerra da Síria. A palavra se refere ao medo que muitos alemães têm de ataques terroristas causados por jovens jihadistas alemães que foram lutar na Síria ao voltarem para a Alemanha.

9) Freistoßspray: (spray do tiro livre) - como todo mundo viu na Copa de 2014, os juízes marcavam o campo com um spray na hora de demarcar a posição da bola e da barreira de jogadores nos tiros livres. Este spray já era usado há tempos no Brasil. Com a Copa ele passou a ser usado na Alemanha também.

10) Generation Kopf unten: (geração da cabeça baixa) - este termo se refere à geração atual que parece estar sempre de cabeça baixa ocupada com seu smartphone, mais interessada na realidade virtual que nas interações com pessoas ao seu redor.

Ah, outra instituição escolhe todo ano a "Unwort des Jahres", ou seja, uma palavra que nem deveria ter sido criada por ser pejorativa, ofensiva, um termo errôneo, não adequado, mas a deste ano não foi divulgada ainda. A do ano passado foi Sozialtourismus que se refere a pessoas de países europeus mais pobres que estariam migrando para os países mais ricos apenas para usufruir de benefícios sociais. 

Gostou da lista? De qual palavra você gostou mais? Qual seria a Wort des Jahres de 2014 no Brasil? E em Portugal? E será que este ano teríamos também a Unwort des Jahres em português? Qual seria, na sua opinião?

15 de dezembro de 2014

Aprender alemão com professores não-nativos: prós e contras

Vejo muita gente falando "aprenda alemão com um nativo". Como sou professor de alemão, alemão não é minha língua nativa e tenho um blog de língua alemã, resolvi ser sincero e confrontar aqui as vantagens de se aprender um idioma com um falante nativo e com um alguém não-nativo.

Lembrem-se: eu não acredito que línguas se aprendam em cursos ou em aulas particulares. Línguas se aprendem no momento em que você sai do curso ou da aula particular para aplicar o que viu na aula. MAAAAS a aula é uma ferramenta no aprendizado. A aula pode ser um lugar para tirar dúvidas, (talvez a única chance ao vivo para) praticar a língua com outras pessoas, para se forçar a estudar (muita gente só estuda quando tem aquele compromisso com um curso/professor), para conhecer pessoas (tenho alunos que se tornaram um casal durante o curso de alemão), para aprender coisas que não estão nos livros (vale especialmente para os autodidatas) etc. Ou seja, as aulas são uma ferramenta para o aprendizado, mas o aprendizado EM SI, na minha opinião, ocorre fora de sala de aula. Dito isto, vamos para os comentários:

1) Nem todo falante nativo é professor(a)
Isso parece meio óbvio, mas não custa nada reforçar. Saber falar um idioma não quer dizer que a pessoa saiba dar aula de línguas. Ou será que todo falante de português é professor de português? Isso não impede que falantes sem experiência didática se ofereçam pra dar aulas (ou pra ajudar) as pessoas a aprenderem seu idioma nativo. Isso é normal. Quando a pessoa está se oferecendo para fazer um intercâmbio linguístico (conhecido aqui como Tandem), ou seja, ela te ajuda com alemão enquanto você a ajuda com português, tudo bem. Ninguém precisa ser professor pra oferecer ajuda, além disso, é geralmente de forma gratuita e ambos saem ganhando algo. Há também muito alemão que nunca deu aula na vida e começa a dar aula quando vai pro exterior. Bem, sobre isso, eu vou falar mais no ponto número 4. O importante é se lembrar de que, às vezes, um professor não-nativo formado conhece mais profundamente as regras da língua alemã do que um falante nativo que nunca estudou a fundo a sua língua. Então antes de menosprezar aquele que não tem alemão como língua nativa, analise o conjunto :-)

2) Você gosta do(a) professor(a)?
Em toda profissão há bons e maus profissionais. Isso vale também para os professores. Há professores que cativam seus alunos pelo jeito que ensinam e há outros que conseguem transformar qualquer assunto em tortura. Não adianta fazer aula com um falante nativo chato, com cara emburrada, com uma aula parada enquanto você adora a aula com seu/sua professor@ brasileir@ que sempre dá aquele show. O importante é GOSTAR d@ seu/sua professor@. Cada país tem suas tradições de aprendizagem e ensino. Na Alemanha o método de ensino é diferente. Os aprendizes alemães são bem mais independentes, mais autônomos. Com isso, aquele esforço enorme do professor de prender a atenção dos alunos nas aulas de línguas é um pouco desnecessário, pois os alemães que fazem cursos de língua na Alemanha quase sempre vão fazer os exercícios mesmo que a aula seja um porre. Então você pode dar o azar de fazer um curso de alemão na Alemanha que com alguém dá aula nesse estilo (bem no estilo Se vira!) e perder a motivação por achar a aula meio parada (diferenças culturais). Com isso, não estou dizendo que todo professor alemão faz uma aula parada. Com isso estou dizendo que se você gostar d@ seu/sua professor@, seja ele/ela nativ@ ou não, você vai aprender bem mais durante a aula do que com um@ professor@ de que você não gosta muito. Quero dizer também que o estilo de dar aula na Alemanha é bem diferente do do Brasil e isso talvez requeira uma certa adaptação. (Falo por experiência de quem já fez cursos de vários idiomas com professores alemães. O estilo de ensino é totalmente diferente.)

3) Falantes não-nativos têm uma pronúncia necessariamente ruim?
Um dos principais medos dos alunos é pegar uma pronúncia ruim de um@ professor@ que fala "com sotaque". Esse é um medo justificável. Infelizmente, assim como nem todo aprendiz é perfeccionista na pronúncia, nem tod@ professor@ não-nativ@ consegue soar como um falante nativo. Os alunos notam isso e criticam. E o pior: nos níveis iniciais é crucial ouvir e repetir os sons corretamente. Nesse ponto, os falantes nativos estão em vantagem.

Mas há uma exceção.
O português não tem ainda um dicionário oficial de pronúncia, ou seja, tanto o pernambucano que fala "bom Dia" quanto o carioca que fala "bom DJia" estão falando português corretamente. O alemão, diferentemente do português, tem uma pronúncia padrão, aceita como "correta" e ensinada nos livros didáticos. Essa pronúncia se assemelha bastante ao modo como se fala no Norte da Alemanha (já escrevi sobre Hochdeutsch aqui). Ou seja, se seu/sua professor@ vier do Sul da Alemanha, da Áustria, da Suíça é possível que a pronúncia dele/dela seja diferente daquela que você vai ouvir nos livros. Isso pode causar muita confusão. (E antes que digam: mas ele/ela é nativ@... Sim, mas os livros de alemão ensinam apenas a pronúncia padrão e é esta que se ensina nos cursos. Aqui no blog, todos os tópicos sobre pronúncia ensinam a pronúncia padrão, não-dialetal).
Além disso, há vários não-nativos que falam alemão sem sotaque. Quem disse que isso não é possível? Na faculdade fiz uma disciplina de Fonologia do Alemão com um professor não-nativo e foi excelente. Em todos estes anos na Alemanha já tive a felicidade de conhecer vários estrangeiros falando um alemão impecável. Além disso, a aula (como disse antes) deve ser apenas UMA ferramenta de aprendizado, mas não a única. O contato com os falantes nativos fora da aula pode tirar as dúvidas de pronúncia.

4) Seu/Sua professor@ tem experiência?
Esses dias li algo interessante: Quando um estudante se forma em Engenharia, ele é apenas um formado em Engenharia, ou seja, alguém que tem a formação necessária para exercer a profissão, mas para ocupar uma vaga de emprego, ele provavelmente necessitará ainda um período de treinamento naquilo que fará na empresa. Isso é normal. Professores de idiomas também vão aprimorando sua didática com o tempo. Eu comecei a dar aula de inglês com 16 anos. Naquela época eu me espelhava nos meus professores. Meu jeito de dar aula hoje está a anos-luz dessa época. Já são anos de experiência dando aula de alemão e português. Com o tempo, vamos acumulando materiais, as dúvidas dos alunos vão se repetindo e o professor ganha mais facilidade em ensinar. Na hora de escolher entre um nativo ou um não-nativo, verifique se você está trocando um não-nativo com 10 anos de experiência por um nativo sem experiência. E olha que aqui não estou falando de formação em Letras. Apesar de a minha formação em Letras ter sido bastante enriquecedora e eu perceber que muitos professores de línguas formados em outras áreas poderiam ainda ser melhores se tivessem uma base de teorias da Linguística e da Didática, a verdade (nua e crua) é que mesmo pessoas sem formação em Letras podem ser ótimos professores de língua. A mão na massa dá a experiência necessária. Uma formação teórica dá mais segurança para exercer a profissão.

P.S. Eu sou a favor da valorização do profissional formado em Letras. Mas afirmar que só formados em Letras são bons professores de idiomas vai contra a realidade que observo.

5) Qual é o seu nível no idioma?
Quanto mais alto o nível, na minha opinião, melhor @ professor@ nativ@. É que um falante nativo consegue expressar melhor as nuances da língua. Um nativo consegue usar mais expressões idiomáticas, conhece palavras muito específicas para dizer certas coisas, conhece uma série de ditados populares etc. Um estudante que quer chegar ao nível C2 de um idioma está interessado em se expressar de forma bem específica. Nos níveis iniciais, um professor que consiga (pelo menos) explicar as coisas em língua materna não é ruim. Não precisa dar a aula toda em português, mas dar uma ajudinha de vez em quando ou explicar a gramática na sua língua materna pode ser muito útil sim. Dito isto vem a pergunta: você quer dizer que um professor estrangeiro jamais será capaz de dar um curso do nível C1/C2? De forma alguma. Como falei antes, formação e experiência podem ser bastante determinantes. Bons professores não chegam para as aulas despreparados. Mesmo um professor não-nativo pode preparar uma aula maravilhosa de nível C1/C2. Se ele/ela for experiente, o aluno aprenderá tanto quanto com um nativo.
Dica: o Instituto Goethe oferece certificados de proficiência do nível C2. Se seu/sua professor@ não-nativ@ tiver um certificado do nível C2 e tiver experiência, não precisa ter medo, ele/ela será capaz de te ajudar a chegar ao nível mais alto de proficiência do idioma.

6) Existe alguma vantagem do professor não-nativo?
Sim, existe.
O professor que não tem alemão como língua nativa também teve que aprender alemão. Ou seja, ela passou por todos os processos de aprendizagem que um aluno vai passar. Ele teve que estudar as regras, memorizar vocabulário, manter contato com nativos etc. Ou seja, ele poderá dizer com bastante propriedade o que você deve fazer para aprender a língua. Ele saberá demonstrar mais empatia por suas dificuldades. É claro que sempre fica uma pulga atrás da orelha? Mas e se ele/ela também tiver internalizado erros durante esse aprendizado? E se ele/ela me ensinar algo errado? Se ele trocar um artigo durante a aula e eu aprender o artigo errado? É verdade... esse perigo é real, infelizmente.

Um falante nativo usa a língua de forma mais intuitiva, ou seja, as regras já estão internalizadas. Raramente um falante nativo de alemão vai errar um artigo ou cometer um erro grosseiro de declinação. Mas como falei, o que conta mais é a experiência no ensino. Alemães que já dão aula de alemão há muito tempo no Brasil já aprenderam quais as dificuldades comuns dos alunos brasileiros. Através da sua experiência e por ter alemão como língua nativa, ele está em maior vantagem em relação aos professores brasileiros que aprenderam alemão quando adultos. Além disso, o fato de ele/ela saber falar uma língua como nativo, não significa que esse conhecimento vai passar pra cabeça do aluno de forma automática. Para isso um@ professor@ precisa saber motivar, saber levar o aluno a aprender de forma autônoma, saber ouvir e tirar dúvidas etc. E essas características podem ser bem exercidas por qualquer bom/boa professor@.


Qual a garantia de que eu estou aprendendo alemão correto nesse blog?
Quando decidi fazer Letras no Brasil, já era um apaixonado por idiomas. Já dava aula de inglês (língua que tinha aprendido de forma autodidata e praticando com estrangeiros) em escolas da cidade, mas queria aprender outro idioma. Decidi então cursar uma Licenciatura em Letras com habilitação em português e alemão, um curso que (teoricamente) forma professores de português, alemão e suas respectivas literaturas. O curso não transforma uma pessoa em falante nativo de um idioma estrangeiro, mas te dá todas as ferramentas necessárias para você ser capaz de ensinar esse idioma para alguém depois de formado. A carga horária é bastante alta. Na UFC (onde estudei) o curso dura 5 anos. Em 5 anos, você faz oito cursos de 64 horas-aula cada de língua e cultura alemã bem como 4 cursos de literatura em língua alemã, além de disciplinas de fonologia, morfologia, sintaxe, produção de texto em língua alemã. Sem falar das disciplinas teóricas de ensino de língua alemã e do estágio supervisionado. Durante a faculdade ainda tive a sorte de conseguir uma bolsa de estudos para passar um ano na Universidade de Colônia cursando disciplinas e fazendo curso de alemão, tudo incluído no programa de intercâmbio universitário. Foi durante o intercâmbio que passei no DSH (é uma das provas de idioma aceitas para ingressar na faculdade na Alemanha). Depois disso, resolvi ainda fazer um mestrado na Alemanha em didática de língua estrangeira (mais especificamente no ensino de Alemão como Língua Estrangeira). Já moro na Alemanha há 7 anos e tenho contato com a a língua alemã desde 1999. Como toda esta formação, será que não estaria pronto pra dar aula de alemão? Pra muita gente não. Não tem problema. Se preferir ter aula com um nativo, tudo bem. Mas acho que me sinto preparado para ensinar alemão, sim. E muito bem, obrigado.

Eu tive excelentes professores de alemão do Brasil. Não deixaram em nada a desejar.

Moral da história:Aprender a língua de um nativo pode ser muito vantajoso, sim. Mas este nativo deve ter experiência no ensino (noções de didática, conhecimentos do métodos de ensino de alemão para estrangeiros), domínio da língua materna e ser uma pessoa agradável (ou seja, a aula desta pessoa te dá mais motivação para estudar). Se for um nativo com experiência de ensino, com certeza ele estará com mais vantagem do que os não-nativos. Caso seja um nativo sem experiência de ensino, prefira seus serviços para conversas mais informais (como num Tandem), mas não pague um valor alto pra alguém sem experiência apenas por ser nativo.
Um professor não-nativo tem que se esforçar duplamente para convencer o seu alunado de que é capaz. Isto se dá através da sua formação acadêmica, sua experência com o idioma, através de certificados de proficiência, de uma pronúncia clara etc. Caso você perceba que seu professor "se garante" no alemão, não tenha medo. O mais importante é que o aluno goste de ter aulas com aquele professor e faça progressos.

E você? Teve bons professores de alemão brasileiros/portugueses?

3 de dezembro de 2014

Escrever cartões de Natal em alemão

O que escrever num cartão de Natal em alemão? 

Todos os anos escrevemos mensagens desejando Feliz Natal para as pessoas. Algumas expressões estão fixas na nossa memória. Por exemplo: é normal desejar um "Feliz Natal e Próspero Ano Novo". Além de escrever coisas como "São os nossos votos...".

Em alemão, as expressões mais comuns usadas em mensagens escritas são:

Frohe Weihnachten! - Feliz Natal!
Frohes Neues Jahr! - Feliz Ano Novo! (tá, eu sei que não é de Natal, mas é tudo mais ou menos na mesma época)

Se você quiser ser um pouco mais longo:
Ich wünsche Dir sehr fröhliche Weihnachtstage und einen guten Rutsch ins neue Jahr.  - Desejo-te um Natal muito feliz e uma boa "entrada" no Ano Novo. - Para entender melhor a expressão "Guten Rutsch" clique aqui.

Em vez de desejar um FELIZ Natal, na Alemanha é comum desejar "besinnliche Weihnachtstage". Essa palavra besinnlich é um pouco complicada de traduzir, pois não a usamos nas nossas saudações natalinas em português. O adjetivo besinnlich (contemplativo, pensativo) vem de Besinnlichkeit (reflexão, contemplação). Quando os alemães desejam um Natal besinnlich, eles estão desejando que as pessoas possam passar um Natal de reflexão, ou seja, uma festa onde a família se encontre e possa refletir não só sobre o espírito natalino, mas sobre o ano que está acabando, sobre as relações familiares etc. É uma palavra bastante usada nessa época do Natal. Acredito que esteja relacionada ao que nós chamamos de "Espírito Natalino".

É costume também desejar muitas coisas para as pessoas. Neste caso basta usar a palavra viel (assim mesmo, sem declinar) acompanhada de um substantivo no singular.

Ich wünsche dir... (Eu te desejo...)
...
viel Glück - muita sorte, muita(s) felicidade(s)
viel Freude - muita alegria
viel Geld - muito dinheiro
viel Gesundheit - muita saúde

Caso o substantivo esteja no plural, usa-se viele:
Ich wünsche dir...
viele glückliche Augenblicke - muitos momentos felizes
viele Freunde - muitos amigos
viele Geschenke - muitos presentes

Se você quiser expressar seus desejos em orações completas, basta que você coloque uma vírgula, um dass e o verbo conjugado no final.

Ich wünsche Dir, dass im neuen Jahr all Deine Wünsche in Erfüllung gehen. - Desejo-te que todos os seus desejos sejam realizados no ano novo.
Ich hoffe, dass Dir der Weihnachtsmann viele Geschenke gibt. - Espero que o Papai Noel te traga muitos presentes.
Ich wünsche Dir, dass Du schöne Weihnachtstage im Kreis Deiner Familie verbringst. - Desejo-te que passes um belo Natal no seio familiar (em companhia da sua família).

Se você quiser desejar coisas como "Que a luz do Natal ilumine seus caminhos" ou "Que Deus te abençoe", começam-se as frases com "Möge" (singular) ou "Mögen" (plural).

Möge Gott Dich segnen - Que Deus te abençoe.
Möge das Licht von Weihnachten deine Wege bescheinen. - Que a luz do Natal ilumine seus caminhos.

Estas expressões foram úteis? Quais outras expressões natalinas você conhece?
Para ler mais sobre o Natal na Alemanha, clique aqui ou aqui.