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31 de março de 2014

A diferença entre "sagt mir" e "sagt zu mir"

Aqui vai a pergunta do leitor Rodrigo Marinho:


"Aproveitando o espaço sobre declinações...sei que o verbo sagen pede dativo e acusativo, e o dativo não pede preposição nesse caso...mas já vi letras de música com o zu antes do dativo...como "Du sagst zu mir: 'Puppe, lass das Denken sein'", de Mia. Está errado esse zu mesmo...ou é algo diferente?"

A resposta é bem mais simples do que parece. 
A diferença está apenas no diálogo direto ou indireto.

A explicação vale para o verbo sagen. Se você reproduzir fielmente as palavras da pessoa (entre aspas num texto escrito, por exemplo), usa-se ZU. Caso você diga com suas próprias palavras o que a pessoa disse (seguido da conjunção "dass", por exemplo), não se usa "ZU".

Digamos que sua namorada diga para você "Du siehst sehr gut aus" (Você é muito bonito). Veja a diferença:

Meine Freundin sagte ZU mir: "Du siehst sehr gut aus". 
(Neste caso você repetiu tal e qual o que ela disse)

Meine Freundin sagte mir, dass ich sehr gut aussehe.
Meine Freundin sagte mir, ich sehe sehr gut aus.
(Nos dois casos acima, você acrescentou a fala dela na sua fala, fazendo as adaptações necessárias)

Eu não encontrei em nenhum livro ou dicionário se é obrigatório o uso do ZU na representação do discurso direto, mas a explicação é essa.

Caso você tenha dúvidas ainda sobre o uso de dass, clique aqui.
Caso você queira saber quando se usa für mich no sentido de "para mim", clique aqui.

29 de março de 2014

Por que a declinação do alemão não é tão terrível quanto você pensa

Já ouvi muita gente dizer que tem medo de estudar alemão apenas por conta da famigerada, aterrorizante, amaldiçoada declinação.

O engraçado é que nunca achei a declinação do alemão "incrivelmente difícil a ponto de me fazer desistir de estudar alemão apenas pelo fato de ela existir". Eu acho até engraçado ouvir que pessoas desistem ou não estudam alemão APENAS por esse motivo. Já fiz muitos tópicos sobre declinação aqui tentando desmistificá-la. Este tópico é dedicado a quem ainda tem medo de estudar alemão por causa das declinações e a quem é iniciante no alemão e que está "sofrendo" com elas.

1) Há resquícios de declinação também no português.
Na maioria das línguas as palavras podem ser flexionadas. Existe a flexão verbal (de verbos) e nominal (de substantivos, artigos, adjetivos, pronomes etc.). Uma das formas de flexão verbal é chamada de "conjugação". O português (e todas as línguas românicas) herdaram do latim um sistema bem complexo de conjugação. Há conjugações incrivelmente irregulares (um falante nativo português não tem a menor dificuldade de identificar formas como "vou, fui, fosse, vá, for, ia etc." como sendo formas conjugadas de um mesmo verbo. Um estrangeiro tem que se "matar" decorando essas formas)

"Declinação" é uma das formas de flexão nominal. Há flexões nominais que não são "declinações". Marcar o plural de um substantivo é flexioná-lo (marcando o número), mas não é declinação. Declinar uma palavra é atribuir uma marca (pode ser um sufixo ou uma alteração na forma da palavra) indicando uma determinada função que esta palavra exerce em relação às outras.

No português (ou até mesmo em inglês) a declinação sobrevive apenas nos pronomes pessoais. Qualquer falante do português sabe dizer frases como "Eu gosto da Joana, mas ela não gosta de mim" ou "Eu conheço a Maria, mas ela não me conhece". De forma natural, mesmo antes que regras nos fossem ensinadas na escola, nós sabíamos que depois da preposição "de", a palavra "eu" se transforma em "mim". E que a palavra "eu" se transforma em "me" como objeto do verbo "conhecer". Isso nós usamos de forma tão natural quanto um alemão declina outras palavras. Isso é declinação. É marcar numa palavra a função sintática que ela exerce em relação a outras palavras.

2) Os substantivos em alemão mal mudam de forma
Eu até entenderia o medo das declinações se a língua alemã tivesse 10 casos e os substantivos alemães mudassem de forma em cada caso. Em russo, por exemplo, os substantivos são declinados em 6 casos diferentes. Em russo também há três gêneros (masculino, feminino e neutro). O pior de tudo: além de os substantivos receberem uma série de terminações diferentes em cada caso, a sílaba tônica também muda dependendo da palavra, tudo sem muita regra. Uma russa amiga minha disse que nem eles mesmos sabem o porquê dessas mudanças de sílaba tônica. Os substantivos do latim também recebiam terminações ao fim da palavra, da mesma forma que conjugamos um verbo.

No alemão, os substantivos quase não se alteram ao serem declinados. Resumidamente, os substantivos alemães só recebem um -S (ou -ES) no genitivo singular (e só os masculinos e neutros.. os femininos nem isso) e recebem um -N no dativo plural (com exceção dos que fazem o plural em -S). Falei grego? Vou dar um exemplo.

Tomemos a palavra "mulher". Observe a declinação em latim:


Agora observe a declinação em russo:


Perceberam que em ambos os casos acima, houve várias terminações diferentes?

Pois bem, vejamos em alemão:


Além de ter dois casos a menos, se você observar cada coluna separadamente, verá que a palavra permanece na mesma forma em todos os casos. 

Agora vejamos um exemplo de um substantivo masculino (Lehrer = professor) para exemplificar as regras que falei acima. (-S no genitivo singular e -N no dativo plural).
Em alemão também há um grupo de declinação chamado "declinação-N" cuja característica básica é terminar sempre em -N, com exceção do nominativo singular. Veja no exemplo (Biologe = biólogo):


Há também outras palavras que raramente declinam. Em russo até os números entram na declinação. No alemão, apenas o número um (ein, eine etc.). Os números zwei e drei também podem ser declinados no dativo e genitivo, mas seu uso é bem mais restrito. Fora isso, os numerais permanecem invariáveis. 

MORAL DA HISTÓRIA: Na verdade, os substantivos alemães sofrem poucas marcas de declinação. O medo gigantesco de declinar é infundado. 

3) A falta de declinação nas línguas é suprida por outras estruturas

No português essas marcas se perderam nos substantivos, artigos, adjetivos e só sobreviveram nos pronomes pessoais. No latim, língua mãe do português, todos os substantivos mudavam de forma de acordo com a sua função. Quem estuda latim sabe que no latim havia 6 casos e as gramáticas dividem os substantivos em 5 grupos de declinação. Como nós perdemos essas marcas no português, nossa língua passou a marcar essas funções de outra forma:

a) através de preposições:
o livro do Paulo - Paulos Buch - Paulo's book (a relação de posse do caso genitivo é expressa em português pela preposição de)
Dei um livro para o Paulo - Ich habe Paulo ein Buch gegeben - I gave Paulo a book / I gave a book to Paulo. (o objeto indireto "receptor" marcado pelo caso dativo no alemão é marcado em português pela preposição para, em inglês ele é marcado pela ordem na oração - antes do objeto direto - ou pela preposição to)

P.S. Cabe lembrar que "do Paulo" não significa dizer que no português há um caso genitivo. Haveria um caso, se substantivos da língua portuguesa como "Paulo" sofressem alterações (sufixos, por exemplo) para indicar posse.

b) uma ordem mais fixa das palavras
Em português é possível dizer "O João te ama" e "O João ama-te", mas não dá pra dizer "Te ama o João", mesmo com a declinação marcada no pronome pessoal. A perda das marcas de declinação fez com que nossa língua congelasse com mais força a forma "Sujeito + verbo + Objeto" como forma de nós idenficarmos com mais rapidez quem exerce as funções sintáticas na oração. Ou seja, as palavras podem até não mudar de forma, mas a ordem delas é mais fixa.

Em inglês a ordem das palavras é também mais fixa: "João loves you" (não se diz "You loves John")

Em alemão há mais flexibilidade na ordem dos complementos (sujeito/objeto).
João liebt dich.
Dich liebt João.

Frases como "Dich liebt João" precisam ser traduzidas em português com mais palavras (algo como "É você que o João ama"). Apesar da frase "Dich liebt João" parecer artificial, há muitíssimos exemplos de frases começadas por objetos diretos ou indiretos em alemão. Não é algo tão incomum assim.

MORAL DA HISTÓRIA: Nossa língua eliminou muitas marcas de casos, mas para isso, outras palavras (preposições, por exemplo) e uma ordem menos maleável das palavras na frase servem para indicar as funções exercidas pelas palavras.

Se substantivos alemães quase não sofrem alteração, o que mais muda com as declinações?
Os que sofrem mais transformações são as palavras que acompanham os substantivos, ou seja, adjetivos, artigos e pronomes.

Por exemplo, vamos tomar como exemplo o artigo definido FEMININO:

Caso Singular Plural
Nominativo die die
Acusativo die die
Dativo der den
Genitivo der der

Apesar de isso parecer algo como 8 artigos diferentes, se observarmos bem só são três formas diferentes: DIE (na metade de cima da tabela), DER (na metade de baixo) e DEN (no dativo plural, que sempre termina em -N de qualquer jeito). Será que isso é realmente algo impossível de se aprender como muitos saem pintando por aí? O.o

Pois bem, consideremos que isso seja motivo suficiente para aterrorizar quem quer estudar alemão. Tá, eu sei, é um decoreba a mais do qual poderíamos todos ser poupados. Mas pensando bem, os artigos definidos femininos dessa tabela podem ser usados com TODOS os substantivos femininos da língua alemã. Ou seja, é muito mais fácil decorar formas de três artigos que podem ser usados para qualquer substantivos do que memorizar tabelas completas de declinação e sílabas tônicas (como é no caso da declinação russa). Além disso, depois de saber a tabela dos artigos definidos fica muuuuito fácil de aprender as outras, pois as terminações são praticamente idênticas.

Compare a tabela dos artigos definidos femininos acima com a tabela dos demonstrativos abaixo. Você verá que as palavras terminam com as mesmas letras.

Caso Singular Plural
Nominativo diese diese
Acusativo diese diese
Dativo dieser diesen
Genitivo dieser dieser

Quando se abre uma gramática, a impressão que se tem é que se tem que aprender mais uma tabela cheia de palavras declinadas. Mas é só comparar com a tabela dos artigos pra ver que as terminações são idênticas.

Se mesmo depois de tudo isso ainda vierem com o argumento de "Ah, mas inglês não tem nada disso", o máximo que posso lhe dizer é "Mas afinal, você quer aprender inglês ou alemão?"

Se a declinação é algo tão simples quanto você quer transmitir, por que as pessoas dizem que é tão difícil?

Bem, a dificuldade do aluno iniciante alemão não é só aprender que der "vira" den. Eu acho que qualquer pessoa com o tico e teco (dois neurônios) funcionando consegue memorizar uma tabela de artigos. E não precisa de 3 anos para se aprender essa tabela. Acho que bastaria poucas horas para um aluno com mais dificuldade para aprender idiomas e alguns minutos para alunos com boa memória e mais motivados.

Acho que o que mais atrapalha o aprendizado das declinações é o incrível trabalho de memorização para saber se um substantivo é masculino, feminino ou neutro. E isso afeta especialmente os alunos iniciantes, pois esse primeiro contato com o idioma é o momento em que a pessoa tenta ganhar motivação para continuar. No alemão, os alunos inciantes se veem confrontados com um desafio de memorizar os gêneros e a forma do plural de cada palavra já no início do curso, o que parece uma tarefa impossível. Então o desânimo vem qdo o aluno troca um "der" por "die", ou um "den" por "dem", não pela falta de conhecimento das tabelas, mas pela simples dúvida na hora de saber o gênero da palavra em questão. 

Além disso, a declinação dos adjetivos é um capítulo da gramática que requer atenção e exercício. Mas os princípios que governam a declinação dos adjetivos também são relativamente simples. 

Isso tudo infelizmente eu não tenho como mudar no idioma alemão. Se eu pudesse, tornaria tudo mais fácil. Mas só posso garantir que não é impossível, não.  Há muito brasileiro e português que fala alemão. Não duvide da sua capacidade de aprender alemão!

Mais sobre declinação, clique aqui

24 de março de 2014

Quiz Facebook

Quiz 24/03/2014




Resposta A) gebetet. 

Fiquei feliz de ver quase todo mundo acertando essa.

Há dois verbos que são muito parecidos, facéis de confundir: bitten (pedir) e beten (orar, rezar). O Partizip II de bitten é gebeten e o de beten é gebetet.

Já falei um pouco sobre esses verbos aqui.

Já as outras alternativas: geboten é o particípio de bieten (oferecer); gebissen é o particípio de beißen (morder).

Quiz 24/03/2014



Resposta C) um

Por quê? Nesse caso o que você tem que saber é regência verbal. Como disse antes, gebeten é particípio de bitten. O verbo bitten rege complementos com a preposição um

Ich bitte um Hilfe.
Ich habe um Hilfe gebeten.

Não há muitas regras para se saber isso. Isso requer memorização. Dei algumas dicas para aprender regência verbal aqui e dicas de como descobrir no dicionário a regência de um verbo aqui.

Quiz do dia 20/03/2014


Resposta correta: B) An den Wänden hängen Fotos in allen Größen, die unterschiedliche Häuser und ihre Bewohner zeigen.

Muita gente acertou, mas muita gente não soube justificar bem o porquê. 

Vamos passo a passo:

1) An den Wänden (dativo) ou An die Wände (acusativo)
Neste caso usamos o dativo. O verbo hängen é um dos cinco verbos principais de localização espacial. Ele pode ser tanto usado para indicar um deslocamento (com o acusativo) quanto para indicar o lugar onde algo está (dativo). A ideia é que o objeto esteja "pendurado" em algum lugar. Para saber se se usa o dativo ou acusativo, procure na frase um "sujeito" movendo um objeto de um lugar para outro (acusativo). Caso na frase haja apenas um objeto em algum lugar (sem a menção da pessoa que o pôs lá ou do ato de deslocar o objeto até lá) se usa dativo.

Veja a diferença:
a) Die Kinder hängen die Fotos an die Wände.
b) Die Fotos hängen an den Wänden.

Na frase A o sujeito (Die Kinder) indica quem está movendo as fotos de lugar. O destino final deste deslocamento se faz com o acusativo. Já na frase B não se fala em deslocamento, apenas se diz o lugar onde as fotos estão (dativo). 

Para entender isso melhor, clique aqui.

2) "die unterschiedliche Häuser"

Aqui é uma pegadinha sobre declinação. O "die" em questão não se trata do artigo, mas sim do pronome relativo (em português "que"). "Unterschiedliche Häuser" está sem artigo, por isso a declinação do adjetivo tem a mesma terminação que teria um artigo no plural "die". O "die" aqui é o sujeito da frase e refere-se às Fotos, mencionadas no início da oração.

Algumas pessoas erraram na determinação do caso (nominativo ou acusativo?) e li também algumas dizendo que poderia ser um ou outro. Bem, o acusativo é um dos casos mais fáceis de se aprender a declinar, pois ele só muda no masculino singular. O plural é exatamente igual ao nominativo. Ou seja, no fim das contas, tanto faz em que caso esteja, a declinação é a mesma. Uma tradução da frase pode ajudar melhor a descobrir o caso:

"Nas paredes estão fotos de diversos tamanhos que mostram diferentes/diversas casas e seus habitantes". 

Ou seja, as fotos mostram diferentes casas e seus habitantes. Fotos é o sujeito (nominativo), representado pelo pronome relativo die (em português "que") também no nominativo. "Diferentes casas e seus habitantes" é o objeto direto do verbo zeigen e fica no acusativo. Portanto não há razão de colocar "ihrer Bewohner" no genitivo, como aparece em uma das alternativas. 

Por isso a resposta é B.



17 de março de 2014

Hangouts - Teste

Olá, galera, me falaram sobre o uso do Hangout para dar palestras. Então, eu nunca usei essa ferramenta e gostaria de testá-la hoje. Caso eu ache produtivo, poderei usá-la de vez em quando para abordar um determinado tema com vocês.

Quero apenas testar... talvez esteja lá apenas para dar um OI, para falar sobre algum livro ou para responder a alguma pergunta. Não vai ser nenhuma aula. Eu quero apenas testar o uso dessa ferramenta. Mas pode ser que já dê algumas dicas durante essa primeira conversa.



Começa hoje às 23:00 (horário de Berlim), às 19:00 (horário de Brasília) e às 22:00 (horário de Lisboa). Apareçam!

https://plus.google.com/events/co3r58c9mooktn4ira1l8qp7ph4

8 de março de 2014

"A mulher na Alemanha" - Parte III

Olá, queridos leitores e leitoras, como parte das comemorações do "Dia Internacional da Mulher", convidei algumas mulheres para escreverem livremente sobre o tema "A mulher na Alemanha". O resultado está aqui: dois textos de brasileiras vivendo na Alemanha e um texto de uma alemã (em alemão e sem tradução para o público com alemão mais avançado).

Que neste dia nós reflitamos sobre os direitos já conquistados e o que ainda falta para que haja igualdade entre os sexos.

Para ler a parte I (em português), clique aqui.
Para ler a parte II (em português), clique aqui.

8. März - Weltfrauentag

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Wie stehts eigentlich um uns DeutschInnen?

Von Elisabeth S.  (4.3.2014)


Brasilianerinnen, Schwedinnen, Australierinnen, Amerikanerinnen, Afrikanerinnen, Asiatinnen….für alle haben wir ein ‚Innen‘ außer für uns selbst. Warum eigentlich? Sobald es zu Berufs- oder Statusbezeichnungen kommt, grenzen wir wieder klar das weibliche Geschlecht ab: Ärztin, Migrantin und für ‚Hausfrau‘ gibt’s schon gar nicht offiziell das männliches Geschlecht im Deutschen. 

Wie steht es dann eigentlich um unsere ‚Emanzipation‘? Ist das, was ‚Emanzipation‘ ist wirklich, was alle Frauen in Deutschland anstreben?

Wird der Status der Frau im Ländervergleich dargestellt, geht es meistens um Gewalt an Frauen oder um das, was wir für ‚Emanzipation‘ halten: wieviele Frauen haben (Spitzen)positionen? Daher werden hier mit Absicht nicht die Durschnittszahlen für Gewalt an Frauen in Deutschland denen in Brasilien gegenübergestellt bzw. die Zahlen für erwerbstätige Frauen im gebährfähigen Alter.  

Nein, ich möchte für Ansichten bezüglich der Rolle der Frau in Brasilien und Deutschland ein anderes Beispiel heranziehen: 
Mein brasilianischer Freund und ich sind bei einem befreundeten deutschen Ehepaar eingeladen. Die beiden haben zwei kleine Kinder. Wir gehen spazieren, die Kinder quengeln etwas und wollen beide bei Mama sein. Mama hat aber gleichzeitig noch eine große Tasche über die Schulter gehängt, der Inhalt natürlich all das, was die Familie unterwegs brauchen könnte. Kurzerhand bürdet sie sich Kinder und Tasche auf. Als mein Freund und ich ein paar Schritte zurückfallen, tuschelt er mir zu: „Warum trägt ihr Mann denn jetzt nicht zumindest mal diese Tasche?“ Dieser läuft fröhlich mit und erzählt uns, wie er sein tägliches Fitnessprogramm mit ausgedehntem Joggen und Radfahren durchzieht. 

Das trifft genau den Punkt, wo mir in der Tat wirklich ein Unterschied in unserer Beziehung zu Deutschen aufgefallen ist: Mein brasilianischer Freund will mir oft etwas abnehmen, besonders beim Tragen aber durchaus auch andere Tätigkeiten , die auch nur wenig Kraft abverlangen. Anfangs lehnte ich ab, weil ich keine Prinzessin sein wollte. Ich bin doch zur Unabhängigkeit erzogen? Ich sollte mir ja doch wohl selber helfen können? Inzwischen lasse ich es zu, auch wenn es sich in mir manchmal noch sträubt, denn ich merke, dass er lieber schwer für mich trägt als da in seiner Rolle abgelehnt zu werden.

Ja und nun doch noch zur Gewalt gegen Frauen.  Sind die Länderunterschiede da wirklich so groß? "Gewalt gegen Frauen ist ein globales Gesundheitsproblem von epidemischem Ausmaß", so das Fazit der Generaldirektorin der Weltgesundheitsorganisation (WHO) Margaret Chan zu Ergebnissen einer WHO Studie im vergangenen Jahr über das Außmass an Gewalt gegen Frauen. 35% aller Frauen weltweit werden Opfer von Gewalt, laut der Studie. Damit hat sie recht, denn wir denken oft, dass Gewalt an Frauen, bzw. umgekehrt Emanzipation, mit Fortschritt zu tun hat. 


In der EU sehen die Zahlen ganz ähnlich aus wie global: Die Agentur der Europäischen Union für Grundrechte (FRA) hat Frauen in allen 28 EU-Mitgliedsstaaten befragt. Jede dritte befragte Frau (33 Prozent) hat seit ihrem 15. Lebensjahr schon einmal körperliche und/oder sexuelle Gewalt erfahren, laut der Studie, passend in dieser Woche veröffentlicht. 

In der Tat nehmen Länder, die wir oftmals sozial und rechtlich für besonders fortschrittlich betrachten, traurige Spitzenplätze sein. Die höchsten Gewaltraten gibt es in Dänemark (52 Prozent), Finnland (47 Prozent) und Schweden (46 Prozent). Deutschland entspricht mit 35 Prozent dem globalen Durchschnitt.
Andere Tendenzen zur Rolle von Mann und Frau in verschiedenen Ländern können schwer pauschal einem Land zugeordent werden. Solche Tendenzen und Rollenbilder sind oft auch der sozialen Klasse angehörig, oftmals mehr als dem Herkunftsland.

Eines haben wir hier aber sicher mit Brasilien gemeinsam: Frauen an der Spitze! Angela Markel und Dilma Rousseff vermitteln auch nicht den Eindruck, dass sie sich davon so schnell von Mann oder Frau abringen lassen werden.

"A mulher na Alemanha" - Parte II


Olá, queridos leitores e leitoras, como parte das comemorações do "Dia Internacional da Mulher", convidei algumas mulheres para escreverem livremente sobre o tema "A mulher na Alemanha". O resultado está aqui: dois textos de brasileiras vivendo na Alemanha e um texto de uma alemã (em alemão e sem tradução, para o público com alemão mais avançado).

Que neste dia nós reflitamos sobre os direitos já conquistados e o que ainda falta para que haja igualdade entre os sexos.

Para ler a parte I (em português), clique aqui.
Para ler a parte III (em alemão), clique aqui.

8. März - Weltfrauentag

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Mulher, brasileira, na Alemanha. 


Quando recebi o convite para escrever essa contribuição, confesso que muita coisa mexeu em mim. Primeiro, porque descobri que eu não sei ao certo o que é ser mulher na Alemanha. Segundo, porque relembrei coisas que marcaram muito a minha estada aqui. Vale observar antes de tudo, que eu “adulteci” aqui e não sei como seria esse processo no Brasil.

Apesar de morar aqui há mais de cinco anos, apesar de inúmeras amigas alemãs, da minha Gastmutter fofa, da mãe e da irmã do meu namorado, eu não sei o que é ser só mulher na Alemanha. Eu sou uma intersecção de coisas já no primeiro momento. Eu sou mulher, brasileira, latina ou Südländerin, migrante ou, simplesmente, diferente. Diferente não só na percepção do outro sobre mim, mas também na maneira como observo as coisas. Talvez porque isso seja coisa de doutoranda maluca que transforma o mundo em um laboratório para as próprias observações sociais e políticas. Talvez porque eu simplesmente tenha perdido a ingenuidade de achar as coisas naturais, não por uma habilidade crítica, mas por literalmente ter sofrido. E aqui entra a observação sobre o que eu sei sobre a mulher brasileira: eu também não sei. Eu sei o que é ser uma mulher branca, classe média em um centro urbano brasileiro.

Não que isso seja fácil. Já tive professores e chefes machistas, fui assediada no trabalho e punida por “dar a real” no meu subgerente de que ele ultrapassara todos os limites. Já tive namorados que me prescreviam (ou tentavam) qual era o meu lugar. Tudo no plural. Além, claro, das recomendações à menina de bem da tradicional família mineira e a influência católica. Onde ir, por onde passar, não andar sozinha de transporte público a partir de tal hora, como me comportar.

Não conferi nenhuma estatística, mas imagino que a Alemanha seja em muitos aspectos, bem mais igualitária (nos direitos e nos deveres, inclusive no que diz respeito a pagamento de pensão e guarda de filhos) e mais segura para as mulheres. Por outro lado, minhas experiências aqui, também a das minhas amigas mais próximas, mostram, estruturalmente, muito do mesmo. Contudo, ser brasileira implica um outro componente: as expectativas sexuais que são invocadas pelo estereótipo. Infelizmente, a Alemanha é um país emissor de turismo sexual e é comum o agenciamento de mulheres, principalmente do leste europeu (mas de toda parte do mundo) para casamento. Claro que meu dia-a-dia não se resume a situações desagradáveis, mas não são raras as vezes que observo que a atitude de homens muda no exato momento em que pronuncio a palavra “Brasil”. Frequentemente eles se tornam mais ofensivos e até desrespeitosos. Também não são raras as insinuações de que estaria com meu namorado, para acesso ao visto ou a uma situação melhor de vida. Afinal, sou mulher e brasileira.

Como sou doutoranda, posso falar mais propriamente sobre as universidades, que são extramamente men-ruled. Você pode encontrar reitoras e até argumentar que o número de estudantes do sexo feminino é maior. Mas observando a distribuição de cadeiras, a estrutura de departamentos e até na distribuição de recursos, fica claro que as chances como mulher na carreira acadêmica são claramente menores. No meu instituto não é diferente, além da cultura organizacional não estimular em nada a solidariedade entre as mulheres. Assim, secretárias, coordenadoras, assistentes, doutorandas etc. competem entre si pela atenção e reconhecimento dos diretores (em sua maioria, homens) e pela distribuição de recursos, que é determinada por eles. Entre os doutorandos (os poucos do sexo masculino) é comum a postura arrogante nos grupos de trabalho ou até mesmo histórias de traição novelescas. No mercado de trabalho em geral, a mulher ainda recebe menos que os homens exercendo a mesma função. E a porcentagem de mulheres em cargos mais altos é tão pequena, que um sistema de cotas é seriamente discutido na mídia e na política.

Nos relacionamentos, apesar do alemão tomar menos iniciativa na paquera e, sim, participar mais das tarefas domésticas, as diferenças param por aí. Violência psicológica e física existe, prescrições de atitudes (também na cama) ou discursos sobre "direitos" do homem e "deveres" da mulher no relacionamento também existem, assim como a dificuldade do homem lidar com uma situação financeira melhor da mulher. Novamente, não sei estatísticas, mas se comparo com as relações brasileiras que conheço, os problemas são bem parecidos. Há quem diga que os alemães são mais liberais no que se diz respeito à sexualidade. Eu aprendi com amigas e amigos, que os alemães (mulheres e homens) também podem ser bem conservadores e qualquer generalização aqui é complicada.

Quando minha melhor amiga (estudante internacional) foi vitima de violência sexual, a polícia não fez nada além de um boletim. O seguro de saúde não queria pagar nem o teste de HIV, muito menos terapia. Ficamos entregues a ONGs e amigos, que nos ajudaram muito, mas não conseguiram aliviar a tortura que foi lidar com toda a burocracia para conseguir assistência à vítima. Se tivesse acontecido com uma alemã, eu imagino que as coisas talvez tivessem sido um pouco mais fáceis. Mas só um pouco.

Enfim, eu sei que aqui e também no Brasil já foram muitas as conquistas femininas. No início, achava que as pessoas aqui estavam mais dispostas a discutir e transformar a sociedade. Hoje eu agradeço às brasileiras das marchas das vadias, dos “topless-zaços”, dos “mamaços” (amamentação coletiva em protesto) etc. por levantarem a voz e lutarem na minha ausência. O Brasil ativou a transformação. As estruturas familiares estão mudando, a social também, homens estão sendo obrigados a se tornar mais participativos e respeitosos. Não me estranham movimentos na contracorrente. O conflito é a prova é de que as coisas estão mudando, causando desconforto e até trazendo posturas reacionárias. A sociedade em transformação abraça o novo, mas também guarda o velho. Aqui também é assim. E ninguém falou que seria uma luta fácil ou rápida, ou com resultados definitivos. Fica o meu muito obrigada a todas as mulheres, que tentam melhorar a nossa realidade, ainda que em pequenos gestos cotidianos - eles também são tranformadores.

Texto escrito por M.R. (que pediu anonimidade)

"A mulher na Alemanha" - Parte I


Olá, queridos leitores e leitoras, como parte das comemorações do "Dia Internacional da Mulher", convidei algumas mulheres para escreverem livremente sobre o tema "A mulher na Alemanha". O resultado está aqui: dois textos de brasileiras vivendo na Alemanha e um texto de uma alemã (em alemão e sem tradução, para o público com alemão mais avançado).

Que neste dia nós reflitamos sobre os direitos já conquistados e o que ainda falta para que haja igualdade entre os sexos.

Para ler a parte II (em português), clique aqui.
Para ler a parte III (em alemão), clique aqui.

8. März - Weltfrauentag

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"Ser mulher na Alemanha"

Às vezes é maravilhoso e outras vezes é horrível ser mulher. Acho que isso vale pra qualquer lugar do mundo. Por isso acho que o que muitas vezes faz a experiência de  ser o outro sexo aqui na Alemanha um pouco diferente são os pequenos detalhes.

Talvez o mais interessante deles é o fato de que desde que cheguei aqui, toda vez que digo que me visto pra mim mesma, sinto que estou falando a mais pura verdade. Quando estou no Brasil, são muitos fatores que influenciam minha escolha em frente ao guarda roupa pela manhã. Tristemente, a maioria deles tem a vem com as situações desagradáveis que alguns homens mal educados já me fizeram passar. Perdi as contas de quantas vezes troquei de roupa antes de sair por medo e falta de paciência para piadinhas e cantadas de rua. Nunca tive de me preocupar com isso desde que cheguei aqui. O que percebo é que aqui as mulheres se vestem como querem e os homens parecem ter o dom de saber discernir os momentos e locais nos quais uma cantada pode ser bem vinda.

Fazia pouco tempo que tinha chegado na Alemanha, quando notei que, ainda condicionada por baixarias que tinha ouvido no Brasil, acelerava o passo ao passar por uma obra se vários homens estivessem reunidos. Mas aos poucos comecei a notar que essa mecanismo de defesa era totalmente desnecessário por estas bandas . Cheguei até a fazer pequenos experimentos, arrastando o passo de propósito ao passar por perto de  um grupo de homens pra ver se ouviria algum comentário desagradável e fiquei feliz com o resultado. Os alemães passaram no teste! Em frente a uma construção, por exemplo, eles se abstiveram de fazer qualquer comentário, não pararam seus trabalhos e se gostaram do que viram, não me deixaram perceber. Experiências como essas fazem com que seja mais fácil pra mim, enquanto mulher, me sentir igual aos homens ao invés de me sentir ameaçada por eles. Isso dá uma sensação incrível de leveza e liberdade que eu aprecio muito.

Mas nem tudo na minha realidade de mulher por aqui é cor de rosa. Existe também um fenômeno que me intriga e entristece. Nas universidades de todo país, o número de estudantes mulheres é geralmente superior ao de homens. No entanto a presença das mulheres em cargos de chefia e entre os grandes doutores na ciência ainda é bem desproporcional ao número que começa lá embaixo no início da escalada educacional. Se pegarmos uma lupa pra analisar direitinho o que acontece com as carreiras das mulheres aqui, percebemos que nós temos uma tendência maior do que os homens a interromper nossos estudos e também temos mais dificuldade de manter nossos cargos quando finalmente chegamos lá. Infelizmente esse é um problema sério aqui, o famigerado "teto de vidro", ou conjunto de fatores muitas vezes invisíveis que atrapalham o crecimento de alguém ou algum grupo.

Nós, mulheres, desfrutamos das mesmas oportunidades que os homens e geralmente conseguimos crescer profissionalmente de igual pra igual também. Isso é, até bater a vontade de ser mãe. Por se tratar de uma sociedade extremamente individualista e que tende a colocar a família em segundo plano, as pessoas quase nunca podem contar com uma rede de apoio familiar que ajude com os cuidados dos pequenos para que o pai e mãe possam trabalhar. Quem tem filho pequeno também não pode contar muito com a compreensão dos patrões e colegas de trabalho e são exigidos o mesmo tipo de engajamento profissional que qualquer outro funcionário. Até certo ponto tudo bem, mas isso quase sempre acaba significando que quando um casal resolve ter filho um dos dois acaba reduzindo  suas horas no trabalho ou fazendo uma pausa profissional pra cuidar dos filhos. Embora muitos homens aqui tirem licença paternidade enquanto suas parceiras continuam trabalhando, o mais comum ainda é o contrário. Voltar ao mercado de trabalho depois dessa pausa e ter de competir com quem está cheio de energia e conhecimento por nunca ter parado nem sempre é a coisa mais fácil do mundo. E por isso haja mulher cheia de potencial vendo suas carreiras estagnando.

Pensando bem, talvez esse não seja um problema exclusivo da Alemanha e sim de todas as sociedades modernas e industrializadas. No final das contas, eu continuo sentindo que a Alemanha é um bom lugar pra ser mulher. Aqui percebo que há um constante esforço tanto da sociedade quanto da política para combater o machismo e desigualdades de gênero. No geral recebemos muitas oportunidades para crescer e nos fortalecer enquanto mulheres e isso é sempre bom. O resto são questões que sempre irão existir onde quer que existam pessoas distintas tendo de conviver com suas peculiaridades. Com essa certeza, quando me parece que estou vivendo alguma dificuldade pelo fato de ser mulher, procuro me lembrar de um detalhe importantíssimo. Me lembro que aqui, ao contrário de muitos outros lugares mundo afora, tenho o luxo de poder fazer minhas próprias escolhas.E isso me faz rapidinho voltar a me sentir melhor com minha dose dupla de cromossomos X.

Feliz dia das mulheres!

Texto escrito por Cris Oliveira, autora do blog "A Saltimbanca"(http://soltandoosverbos.blogspot.de/)

Comentário do blogueiro: Cris, isso me lembrou um pouco desse vídeo aqui sobre italianos e alemães, a partir do minuto 1:19.

7 de março de 2014

Como saber a sílaba tônica em alemão

Muitos falantes de português se perguntam como saber a sílaba tônica em línguas que não usam acentuação como forma de marcá-la. Em português, a sílaba tônica pode ser essencial para interpretar uma palavra corretamente (como "secretária" e "secretaria" ou "sábia", "sabia" e "sabiá"). Só que nós todos sabemos que há línguas que não têm acentos e sobrevivem muito bem, obrigado. Inglês é uma delas.

Mas até mesmo línguas românicas parentes da nossa língua sobrevivem sem os benditos acentos, utilizando-os quase sempre apenas para marcar a pronúncia, o acento diferencial ou a tonicidade de alguns casos excepcionais.

O italiano, por exemplo, não usa muitos acentos. Por exemplo "vedere" (ver) se lê "veDEre", mas "essere" (ser/estar) se lê "Éssere". Nenhuma das palavras é marcada por acento. O francês também usa acentos mais para marcar pronúncia, por isso é comum haver palavras com vários acentos, como "téléphoNÉ" (telefonado) - o acento aqui marca a pronúncia do "e fechado".

Hoje vou falar sobre a tonicidade dentro de uma palavra. Não vou falar sobre a entonação de frases, nem sobre a tonicidade ao se ler uma frase completa.

E no alemão?
Antes de prosseguir, é importante avisar que os tremas usados no alemão não servem para marcar sílaba tônica. Eles são apenas marcadores de alteração fonética (metafonia).

Sobre a pronúncia de Ä clique aqui.
Sobre a pronúncia de Ö e Ü clique aqui.

Como saber qual é a sílaba tônica?
Vamos lá a algumas regrinhas:

Regra 1: A pronúncia do schwa

A primeira coisa importante a saber é que em alemão há muitas palavras que terminam com a letra "e" ou com "e + consoante", principalmente devido às várias terminações de conjugações e declinações (schönes, schönen, schönem, schöne, mache, machen, machte etc.) A letra "e" em posição final ou como parte de vários prefixos do alemão é ÁTONA e é pronunciada de forma bem fraca. Esse som é conhecido na Linguística como "schwa" (a gente fala em português "chuá"). Para ouvir o som do "schwa" é só clicar no play do site da Wikipedia. Dá pra ver exemplos também em outras línguas. Essa é uma das razões pelas quais os estrangeiros têm tantas dificuldades de aprender declinação em alemão: as terminações são átonas, lidas de forma muito fraca, portanto difíceis de serem aprendidas de ouvido.

Em outras palavras, a primeira regra é: "A sílaba tônica nunca estará na letra E que é pronunciada com o som do SCHWA" (O schwa está geralmente em terminações de declinações ou conjugações, mas também em prefixos como ge- [gearbeitet] ou be- [bearbeiten]. Também está presente em muitas palavras que terminam em "e" ou "e + consoante")

Vamos à aplicação prática da regra. Todos os schwas estão marcados de azul. As sílabas tônicas são as marcadas com letra maiúscula. Os schwas não podem ser acentuados. Então a sílaba tônica têm que ser outra.

WEge
HEUt
SCHREIben  
geTAN 
geSCHRIEbe
beWAFFnet 

Como vocês veem nos exemplos acima, a sílaba tônica foi a única que não tinha um schwa.

Adendo à regra 1: A mesma regra se aplica ao R vocálico da terminação -ER.
LEHrer
SCHÖner

Não sabe o que é um R vocálico? Então clique aqui.

Regra 2: Prefixos e sufixos

Já falei sobre prefixos separáveis e inseparáveis, também sobre a pronúncia deles aqui. Prefixo é o que é acrescentado no começo da palavra, sufixo é que é acrescentado ao fim da palavra.

Alguns prefixos são sempre átonos, por isso, são inseparáveis (por exemplo: be-, ent-, er-, ge-, ver-, zer-)

beLAden
entSCHEIden
erFAHren
geLINgen
verSTEHen
zerBREchen

Acho que já expliquei bastante sobre a tonicidade de prefixos verbais no link já citado.

Além dos prefixos verbais, cabe lembrar que alguns prefixo nominais (ou seja, prefixos usados com adjetivos, substantivos etc.) são sempre tônicos (Ex.: un-, ur-, erz-):

UNruhe
URsache
ERZbischof

Vamos aos sufixos:
Alguns sufixos são sempre tônicos, outros são sempre átonos. A lista de sufixos é gigante, impossível sair assim memorizando tudo. O que se percebe é que sufixos de origem germânica (como -chen, -bar, -heit, -ig etc.) são átonos, enquanto muitos sufixos de origem estrangeira, especialmente vindos do latim  - através da língua francesa -  (como -abel, -age, -ant, -ion, -ine, -ös etc.) são tônicos. Essa regra não funciona 100%, mas pode ajudar.

Vamos à prática:

FREIheit - o sufixo -heit é átono.
NaTION - o sufixo -ion é tônico.
senSIbel - o sufixo -ibel é tônico.
nerVÖS - o sufixo -ös é tônico
MÄDchen - o sufixo -chen é átono
FiNANZ - o sufixo -anz é tônico
SoziaLIST - o sufixo -ist é tônico
SPARsam - o sufixo -sam é átono

Sei que tem muita gente se perguntando: mas como eu vou saber se um sufixo tem origem estrangeira? Bem, a dica é: palavras que se assemelham muito a palavras internacionais ou palavras da língua portuguesa têm grande chance de serem de origem estrangeira. É bem mais fácil entender a palavra "Finanz" ou "Nation" do que "sparsam". Ou seja, "-anz" e "-ion" são sufixos tônicos de origem estrangeira.

Lembre-se: Isso é apenas uma regra geral, mas ajuda na maioria dos casos.

Adendo à regra 2: O sufixo -OR é átono no singular (em fim de palavra). No plural ou no feminino ele é tônico.

ProFÉSsor - ProfesSÔren - ProfesSÔrin
DÓKtor - DokTÔren - DokTÔrin
LÉKtor - LekTÔren - LekTÔrin

O único sufixo que varia bastante é o sufixo -IK. Às vezes é tônico e às vezes átono. Não consegui encontrar nenhuma explicação lógica pra isso (se alguém tiver uma é só dizer). O jeito é decoreba:

MathemaTIK (tônico)
PoliTIK (tônico)
GramMAtik (átono)

Já o sufixo "-isch" traz a sílaba tônica sempre para a sílaba anterior a ele:
matheMAtisch
poLItisch
brasiliAnisch

Regra 3:  Palavras compostas e tendência geral

Algumas línguas têm uma tedência geral de sílabas tônicas. Por exemplo, em português, a maioria das palavras é paroxítona (ou seja, a sílaba tônica é a penúltima): casa, bola, livro, janela, caneta etc. A maioria das regras de acentuação existe para marcar a quebra nesta tendência.

No francês a tendência é que a sílaba tônica seja a última. Por isso, na França me chamam de "Fabiô".

Eu me lembro de ter lido em algum lugar (ou ouvido) que a tendência geral do alemão é acentuar a primeira sílaba de uma palavra. Procurando em gramáticas, achei explicações diferentes. Mas estudantes de idiomas não são estudantes de letras,  a maioria só precisa saber de regras gerais.

Pois bem,  pra mim a regra do "acentuar na primeira sílaba" sempre funcionou muito bem como regra geral.

Digamos que você veja uma palavra como "arbeiten".

Vamos analisar: ar-bei-ten
a) a sílaba tônica não pode ser "ten", pois termina em "-en" (schwa + n), que é sempre átono (Regra 1)
b) um brasileiro lê quase sempre "arBEIten", pois tenta aplicar as regras do português. No português a tendência é acentuar a penúltima sílaba.
c) mas como eu sabia da regrinha geral do "em alemão se acentua tendecialmente na primeira sílaba", eu sabia que a pronúncia correta era "ARbeiten".

É claro que a regrinha da "primeira sílaba", às vezes, dá errado.  Mas na faculdade quase sempre encontrávamos uma justificativa para as "exceções".
Por exemplo: abstrakt, Paket, Balkon (a sílaba tônica é a última, mas a nossa justificativa é que se tratavam de uma palavra de origem estrangeira, então a tonicidade não
segue as regras do alemão).

Vamos analisar outros casos de palavras mais longas:

Erfahrungen: Er-fah-run-gen
a) a sílaba tônica não pode ser "ten", pois termina em "-en" (schwa + n), que é sempre átono (Regra 1)
b) a sílaba tônica não pode ser "run", pois o sufixo -ung é átono (Regra 2, sufixos de origem germânica)
c) a sílaba tônica não pode ser "er", pois er- é um prefixo átono inseparável (Regra 2, prefixos inseparáveis)
d) Então a sílaba tônica só pode ser "fah": Er-FAH-run-gen

Pünktlichkeit: Pünkt-lich-keit
a) -keit é um sufixo de origem germânica átono (Regra 2)
b) -lich é também um sufixo de origem germânica átono (Regra 2)
c) Só sobra a sílaba "Pünkt": PÜNKT-lich-keit

Geschwindigkeit: ge-schwin-dig-keit
a) -ig e -keit são sufixos átonos.
b) ge- é um prefixo átono.
c) Sobra só "schwin": Ge-SCHWIN-dig-keit

Wissenschaften: Wis-sen-schaf-ten
a) a sílaba tônica não pode ser "ten", pois termina em "-en" (schwa + n), que é sempre átono (Regra 1)
b) -schaft é um sufixo átono (Regra 2)
c) a sílaba tônica não pode ser "sen", pois termina em "-en" (schwa + n), que é sempre átono (Regra 1). Apesar de não estar aqui no fim da palavra, está no fim da palavra original "Wissen", que mantém a pronúncia em derivados e compostos.
d) Só sobra "WIS" como sílaba tônica: WIS-sen-schaf-ten

Outras considerações:
É importante lembrar que uma palavra longa pode ter várias sílabas tônicas. Uma sílaba tônica "principal" e outras tonicidades secundárias.

Em português isso também acontece. Os exemplos mais claros são os compostos em -mente. Apesar de nós dizermos que a sílaba tônica é somente o "MEN", o acento da palavra original se mantém (com menos intensidade).

FAcil - FAcilMENte (a gente lê quase como se fossem duas palavras "fácil mente")
diFÍcil - diFÌcilMENte (o mesmo ocorre aqui. A pronúncia é quase igual a de duas palavras separadas "difícil mente")
Dá pra perceber mais de uma sílaba tônica também em palavras como "ultrassonografia" (ULtrassonograFIa) ou "socioeconômico" (SÓcioecoNÔmico) ou "infraestrutura" (INfraestruTUra).

O mesmo acontece em alemão com palavras compostas. As partes mantêm seus acentos originais. Quando uma palavra for composta por dois elementos, o primeiro elemento é o mais acentuado.

Autoreifen = Auto + Reifen (mantém-se a sílaba tônica das partes, mas fala-se AUTO de forma mais tônica que REIFEN)
Feierabend = Feier + Abend (FEIER é dito de forma mais tônica - recebe a tônica principal - que ABEND, mas "Abend" mantém o acento secundário da palavra original)
Deutschlehrer = Deutsch + Lehrer (DEUTSCH recebe o acento principal e LEHRER recebe o acento secundário)

Como alemão tem muitas palavras compostas, essa regra de acentuar o primeiro elemento do substantivo composto é mais um reforço da ideia de que em alemão as palavras são mais tônicas no começo.

Quando a palavra composta for maior ainda e nela estiverem mais de dois elementos, há vários casos para saber qual elemento é o mais acentuado. Se eu fosse explicar aqui o tópico ficaria grande demais. O importante é saber que cada parte da palavra também mantém o acento original, mesmo que seja apenas secundário e que, na maioria dos casos, a palavra que aparece em primeiro lugar no composto é mais acentuada na pronúncia que as outras, mas cada elemento mantêm a pronúncia original.

Ex.:
Studentenwohnheim = Studenten + wohn + Heim

Studenten manterá a tônica no sufixo tônico -ENT (Stu-DEN-ten). De todos os elementos, ela será a mais forte. Wohnheim manterá a tonicidade secundária, sendo o elemento "Wohn" pronunciado com mais intensidade que "Heim".


Bem, com isso eu acho que abordei a maioria dos casos.
Quem quiser ler mais sobre isso, a gramática do Duden tem um capítulo extenso sobre pronúncia e entonação.

Para terminar, vamos fazer mais exercício prático? Aqui está uma frase completa tirada de uma notícia atual. Você pode dizer qual a sílaba tônica de cada palavra? Você consegue identificar das palavras compostas qual elemento é o mais forte?

"Russlands Präsident bemüht das Völkerrecht, um den Eingriff auf der Krim zu rechtfertigen".
"Der Ex-Ministerpräsidenten von Baden-Württemberg steht im Zusammenhang mit einem Polizeieinsatz zum Bahnprojekt Stuttgart 21 unter dem Verdacht der uneidlichen Falschaussage". 

Tentem fazer em casa, a resposta sairá nos próximos dias.

3 de março de 2014

Pergunta do Leitor: Ordem das Palavras - Oração Interrogativa

Pergunta do leitor: Vinícius Chiaroni
Olá, meu caro! Você pode esclarecer uma dúvida? 
Tenho o Facebook em alemão e às vezes aparece a seguinte propaganda (não alterei nada, simplesmente copiei e colei): 

"Du willst Michael Schumacher gute Besserung wünschen? Dann klicke auf "Gefällt mir". 193.256 Personen gefällt motorsport-total.com."

Então, gostaria de saber o porquê da pergunta não começar com o verbo. É essa minha dúvida. 
Um abraço e obrigado por se dedicar tanto aos colegas.

Este OVO é apenas um teste. Ele não conta no jogo!


Essa é uma pergunta interessante.

Antes de dar a resposta cabe lembrar um pouco sobre a ordem das palavras em orações interrogativas:

a) Em perguntas com pronome interrogativo, primeiro vem o pronome interrogativo, depois o verbo:

Was willst du denn? O que é que você quer?
Wo wohnst du? Onde você mora?

b) Em perguntas diretas de sim-não (Ja-Nein-Fragen), o verbo ocupa a posição I. Em outras palavras, quando a pergunta puder ser respondida por SIM ou NAO, começa-se a pergunta já pelo verbo.

Willst du Michael Schumacher gute Besserung wünschen?
Wohnst du hier?

A pergunta do Vinícius é: Por que no anúncio do Facebook não ocorreu esta inversão e começou-se a pergunta com o "Du"?

Resposta:
Porque em alemão também é possível fazer uma pergunta apenas num tom confirmatório.

Digamos que todo mundo saiba que você não toma cerveja. De repente, você fala, "Ein Bier, bitte". Num tom de surpresa eu pergunto só pra confirmar: "Du willst ein Bier?" (Num tom de "É isso mesmo?")

Quando alguém diz "Willst du ein Bier?", a resposta ainda é desconhecida. Já em "Du willst ein Bier?" a pessoa só está tentando confirmar o seu "SIM".

No caso, a pergunta do anúncio era baseada num "SIM" já esperado (Quem não gostaria de desejar melhoras pro Schumacher?). O tom da pergunta do anúncio é "(Ah, então) você quer desejar melhoras pro M. Schumacher(,não é)? Então clique em "Curtir""


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